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SENSIBILIDADE

(...)
E eu vos direi: Amai para entendê-las!
Pois só quem ama pode ter ouvido
Capaz de ouvir e de entender estrelas.

Olavo Bilac

Trompas em carmesim, sons vesperais,
Estratos-cirros cheios de nuanças,
Gemas em flor nos álacres vitrais,
O sol coagula em mornas esperanças.

Lentamente a aquarela o breu alcança,
o azul indaga à luz - aonde vais?
Fogem os bandos negros, musicais
À medida em que muda, a noite avança...

Ah! mas lá longe um outro bando trila.
Quieto! Hemos de cismá-las para ouvi-las,
Como ovelhas que berram em um pasto...

São elas, as estrelas imprevistas,
Álgidos cristais, lágrimas de artistas,
Beijos do Azul, tesouro do céu casto.

Quintiniano


FALSA CRENÇA

"Se tu não questionas aquilo no que crês, tua crença não pode ser verdadeira."
Hipatia de Alexandria

Crer apenas por crer, e não pensar,
Não é deveras crer, é se prender
A um mundo de escureza e desprazer,
Em que jaz a verdade a se ocultar...

Talvez seja a fé na noite um luar,
Chama muda que nos muda o viver,
Mas tal vela que vela nosso ser,
Despida de razão pode cegar...

Se tu não questionas o que crês,
Não se julgues, dormindo, um dos insones,
Tua crença não é vera e não vês!

Algo sem convicção jamais abones!
Não importa se tu crês ou descrês,
O que importa é que tudo questiones!...

Renan Tempest

RÉQUIENS LACRIMOSOS

Escuta Amor, os prantos, os lamentos,
Vindos dos mais arcaicos campanários,
Desses chorosos sinos solitários
Que se pranteiam pelos firmamentos.

Escuta os êneos ecos sonolentos,
Esses profundos sons do além — diários;
Esses sacrais queixumes mortuários,
Nesses ocasos frios, fumarentos...

Escuta Amor, a breve melodia,
A prece divinal do fim do dia,
O réquiem melódico e perfeito.

Escuta ainda Amor, o badalar,
Deste meu coração a prantear,
Na catedral augusta do meu peito!

Derek Soares Castro
03 de novembro de 2011

UM LEITO... UM ADEUS!

"Mas que destino louco! "
Alysson Rosa

Entrego-te esta carta em despedida
No mesmo leito ao qual te conheci;
O conteúdo simples que escrevi
Retrata o sofrimento da partida.

"Hoje, acordei distante desta vida,
Nem sei como até hoje assim vivi".
Perdoa-me, donzela! Eu mesmo eu li…
Sabendo que cansada estás, querida.

As flores delicadas… quase murchas
Caídas sobre as tuas tranças frouxas
No féretro final que te consome,

Formando a pulcra imagem falecida;
A tua imagem jovem e suicida!
Lamento apenas não saber teu nome.

19 de Janeiro de 2013
Nestório da Santa Cruz

INOCÊNCIA SENSUAL

Inocência mesmo com barba e bigode
Já crescidos, marcas belas e viris
Mas ainda são traços muito sutis
Porque imaculada flor na tez eclode.

O tronco é sublime ipê de tons anis
Em floresta negra de pêlos que explode...
Ah! Que lírio casto! Mas, como que pode
O androceu já ser florido nos quadris?

Tuas pernas são bastões de lama e terra,
Varinhas de fadas como o braço mau
E o braço do bem e os pés tanque de guerra

Após te fitar com face divinal
Por flamas sacrais minha vida se encerra
E contemplo tu, pureza sensual.

 

Rommel Werneck

 

DESPRENDIMENTO

Sê feliz... Sê contente eternamente...
Agarra a mão do teu amor e segue,
Que tua consciência sempre negue,

Que o corpo dele, o teu, no frio esquente...

Sê feliz... Tu precisas ir em frente,
Que teus olhos a culpa jamais cegue,
E se tua alma a alguém ficar entregue,
Que esse alguém traições a ti nem tente...

Ora... Se te amo quero ver-te bem,
Ou mesmo longe saber que és feliz,
Nenhum de nós espere quem não vem...

Mesmo que não te importes mais comigo,
Perdoa todo mal que eu já te fiz
E leva o meu perdão, também, contigo...

Maurilo Rezende

MOÇOILA


Ó dúlcida moçoila, eu te venero!
És portentosa e meiga… és tão divina…
O teu olhar tão lindo me fascina.
Olhar teus olhos para sempre eu quero.

Pode até parecer que eu exagero,
Mas nem encontro aquilo que te exprima.
És o único remédio que me anima.
Por um sorriso teu, p'ra sempre espero…

Mas não, eu não fiz isso… eu te evitei!
Eu me afastei de ti… eu me inumei,
Onde jamais veria o teu sorriso.

Acreditei não mais acreditar
No que chamam de amor, sem me tocar
De que era justo aquilo que eu preciso…

9 de janeiro de 2013
Alysson Rosa

SONETO DA MOR DESVENTURA

Que m'importa se o céu está risonho;
E o Sol brilha em tons lindos de amarelo?
Que m'importa se o mundo está tão belo,
Que m'importa, se morto está meu sonho?

Que m'importa se cá, onde me ponho,
Aves cantam num coro tão singelo?
Que m'importa se o mundo está tão belo,
Que m'importa, se dentro decomponho?

Que m'importa se belo é todo o mundo;
Se à minh'alma ele todo não conforta?!
Respondei!: que m'importa?!, que m'importa?!

Que m'importa viver mais um segundo;
Se carrasco o Tempo é do coração;
Desde quando ela dorme num caixão?!

 

Ivan Eugênio da Cunha

© 2013 by A Lira dos Poetas

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